Comunicar prossegue com debate sobre impresso e internet

por Erika Zordan




O segundo dia da I Semana de Comunicação da UFRRJ – Comunicar! – foi marcado pela descontração. A apresentação da aluna Raíze Souza, do segundo período, nascida em Recife-PE, que declamou uma poesia de cordel sobre o evento, de sua própria autoria, relembrando a terra natal, empolgou a plateia.


Fábio Gusmão
(foto de Letícia Santos)
O primeiro a compor a mesa foi Fábio Gusmão, editor de Cidade e Polícia do Jornal Extra, que encantado com a performance de Raíze, iniciou a palestra. Gusmão apresentou a cobertura realizada pelo Extra na chamada “Guerra do Rio”, em novembro de 2010. Ele ressaltou a agitação que tomou conta da redação após o aparecimento de diversos relatos sobre supostos ataques que estariam ocorrendo na cidade. E lembrou que não era possível verificar a veracidade dos atos de violência. 



– As pessoas não têm noção do quanto colaboram com o pânico – frisou Fábio.
O Extra, durante esse período, se destacou pela prática criada para confirmar se as informações que chegavam a todo o momento à redação eram “verdade” ou “boato”. Para isso, os jornalistas utilizaram uma das redes sociais mais populares, o twitter, onde interagiram com a população do Rio de Janeiro em busca de confirmação para o que estava acontecendo nas ruas. 
O editor mostrou algumas ferramentas midiáticas utilizadas na cobertura do fato, e acrescentou o quanto elas estão complementando o mercado de forma positiva, agilizando e facilitando processos. Finalizou com um conselho otimista para os estudantes.
-Se vocês souberem sempre ouvir os outros e a si mesmos, serão ótimos repórteres. Repórteres que eu contrataria.

Cristiane Venâncio
(foto de Letícia Santos)

A professora Cristiane Venâncio (UFRRJ), mediadora da mesa, apresentou Henrique Freitas, Superintendente de Negócios Digitais do Grupo O Dia, com um relato de sua própria vida profissional, da época em que trabalhou com ele, e agradeceu a colaboração de Freitas para o sucesso de sua carreira. 

Em sua fala, o jornalista destacou as novas tecnologias disponíveis no mercado, principalmente o iPad, ressaltando que um bom jornalista é, antes de tudo,um bom contador de histórias, independente do veículo.
Henrique Freitas mencionou também a estruturação da sociedade capitalista, lembrando o fato inconteste dos jornais serem grandes empresas que precisam de dinheiro para sua sobrevivência e, por isso, vendem um produto como qualquer outra empresa. 
– Os consumidores precisam ser conquistados diariamente, no entanto, de maneira ética. Por sua vez, o jornal é negócio, não é filantropia, não é para mudar o mundo.

Henrique Freitas
(foto de Letícia Santos)
Ele reafirmou a responsabilidade de um jornalista, enquanto formador de opinião. E, para ilustrar, lembrou o boato sobre a morte de Amin Kadher, cuja irresponsabilidade de jornalistas, que plantaram a informação sem checar as fontes, obrigou o próprio protagonista da história a desmentir sua morte. 


Ainda sobre as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs), Henrique Freitas valorizou a internet e a sua infinidade de espaços para publicação de qualquer ideia, apontando o quanto é importante uma página pessoal na divulgação de informações que ficam fora dos impressos. 
Depois dos dois jornalistas que atuam no mercado, foi a vez da professora Cristina Rego Monteiro, 25 anos de experiência no mercado e atualmente Coordenadora Geral da Central de Produção Multimídia da ECO/UFRJ. Iniciando com uma dinâmica inusitada, ela pediu que cada um dos presentes, com um pedaço de barbante entregue antes da sua apresentação,tentasse, segurando uma ponta em cada mão, sem largar qualquer uma das pontas, fazer um nó. Sem obter nenhum sucesso, a plateia ficou estupefata. Por sua vez, obedecendo as mesmas regras impostas aos demais, a professora conseguiu fazer o nó.

Alunos tentam realizar o desafio proposto na palestra
A brincadeira, que só animou e provocou a platéia, foi apenas uma ilustração para o que ela tinha a dizer. Depois de mencionar as duas palestras anteriores, lembrou que, hoje, temos inúmeros novos instrumentos a nossa disposição, no entanto, como no exemplo do barbante, devemos saber o que fazer com eles. Em seguida, Cristina mostrou em seus slides dados que comprovavam o aumento da leitura do impresso em plena era digital e relembrou o período de censura na ditadura militar. 

– Para vocês isso é história, para nós era realidade. Entrávamos nas redações e já estava colada na parede a lista do que não podia ser publicado.
Assim como os outros palestrantes, também traçou o perfil de um bom jornalista:
– O profissional da comunicação não deve ser ditado apenas pela técnica, mas precisa ter percepção. O jornalismo é o espelho da realidade.
A professora concluiu sua palestra valorizando a Universidade e os valores éticos:
– Entre o estudante em formação e a empresa de informação está o formador, a Universidade. Valores éticos e morais são a base de qualquer jornalista.

Cristina Rego Monteiro
(foto de Letícia Santos)

No espaço dedicado às perguntas da platéia, o aluno Gian Cornachini, quarto período, perguntou sobre a liberdade dos jornalistas em suas páginas pessoais, como os blogs, por exemplo. Cristina Rego Monteiro, reconhecendo o espaço dos blogs, respondeu:
– Publicar em jornal não é a única forma de ser jornalista no mundo.
Com a platéia empolgada, vários outros questionamentos surgiram para os palestrantes. Até chegar à clássica discussão que envolve o desaparecimento do jornal impresso. Os palestrantes concordaram que é uma questão de tempo.
– O papel morreu. O futuro está na palma da mão – afirmou Henrique Freitas, levantando seu aparelho celular. 
Com tanta polêmica, a segunda noite da Comunicar, que também contou com a mediação da professora Ivana Barreto, terminou com gosto de quero mais.

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